A Renault quer vestir suas roupas mais sedutoras. E não só no exterior, onde as novas palavras de ordem da marca são simplicidade, sensualidade e calor. Também aqui, a “sensualização” deve ficar mais pesada com a chegada do Mégane RS. A importação não foi confirmada oficialmente. Afinal, a sedução passa pelo jogo do “vem mas não vou”, mas fonte ligada ao fabricante dá a vinda como certa. Será o retorno da marca a uma tradição esportiva que remonta aos antigos Alpines feitos por aqui sob licença pela Willys, sem falar nos Gordinis, todos pilotados por nomes como Bird Clemente, Emerson Fittipaldi e José Carlos Pace.
Para quem curte esportividade, os preços do RS deverão ficar acima de R$ 120 mil.
Quem se dispuser a gastar tanto levará para casa um modelo de tração dianteira dos mais afiados. Para se ter uma ideia, as revistas estrangeiras costumam compará-lo a medalhões do naipe do Audi TT-RS e BMW M135i. Cacife para isso ele tem: em testes no desafiador traçado de 20,8 km do circuito alemão de Nürburgring, o Mégane RS bateu a marca de 8,07 minutos. Ainda que o recorde tenha sido cravado por Laurent Hurgon, piloto oficial da Renault após dezenas de voltas, é um resultado respeitável diante dos rivais bem mais potentes.
Como antecipação é uma forma de aumentar ainda mais a vontade, o primeiro contato que tive com o Mégane RS foi servido à francesa. Primeiro, a entrada apresentada sob a forma de um deslocamento rápido entre São Paulo e Itapirina, pouco mais de 200 km cobertos ao volante de um Fluence GT de 180 cv e 30,6 kgfm de torque.
Bom aperitivo, já que o Fluence é parente de plataforma do Mégane. Porém, o projeto de origem sul-coreana não chega perto do apetite do esportivo montado em Palencia, Espanha. Para começar, o Mégane RS eleva a potência do 2.0 turbo para 265 cv a 5.500 giros. O torque de 36,7 kgfm é despejado entre 3.000 e 5.000 rpm, mas a 1.900 rotações já conta com 80% dessa força. O peso é de 1.387 kg – relação peso/potência de 5,4 kg/cv.
Ao olhar para esses números, dá para ver que o lugar desse Mégane é em uma pista. Porém, no lugar de um autódromo, a Renault marcou o primeiro encontro para o aeródromo de Broa. Lá nos esperavam duas unidades do Mégane RS, um convencional preto e outro Cup amarelo. A empresa pensa em trazer ambas. O estilo ainda é sensual, mesmo tendo sido lançado em 2008. Ainda mais na versão apimentada, que acentua o jeito de kit car – aqueles carros recriados para ser debulhados nos ralis. A pista de 1.450 metros não seria o único lugar onde eles seriam colocados à prova. Em frente aos hangares, cones demarcavam uma pista travada para a demonstração das habilidades do esportivo.
Famoso por seu equilíbrio, o Mégane RS se garante com alguns truques. Para começar, a suspensão dianteira mantém o esquema McPherson, mas separa a estrutura responsável pelo amortecimento (torre do amortecedor e bandeja inferior) da manga de eixo que traciona a roda. Assim, elimina boa parte do esterçamento por torque, aquela fisgada forte para o lado que os carros de tração dianteira dão quando se acelera fundo, saindo do rumo pretendido. Rivais como o Ford Focus RS e o Opel Astra GTC usam a mesma mágica. Atrás, um bem ajustado eixo de torção cumpre o serviço, enquanto grossas barras estabilizadoras, ainda mais parrudas no Cup, seguram a rolagem da carroceria.
Claro que o melhor é conferir isso na prática. Para começar, é hora de
escolher o modus operandi. Nada do programa Normal de funcionamento, que
limita o poderio a 250 cv e 34,7 kgfm de torque. Basta pressionar o
botão à esquerda do volante para acionar o modo Sport. Isso muda o
volume do escape e a resposta do acelerador, e deixa o controle de
estabilidade mais permissivo. O ESP pode ser desligado no modo mais
purista.
Tudo envolto no habitáculo que parece uma versão aperfeiçoada da cabine daquele Fluence que me levara até ali. Ar-condicionado dual zone, som Arkamys 3D, bancos elétricos com memória, faróis bixenônio e leds diurnos fazem parte do pacote. Não foi possível testar a suspensão sobre piso ruim, porém é certo que o conforto é algo relativo em um carro cujo acesso traseiro é mais voltado a praticantes experimentados de “le parkour”, talvez os únicos que entrem e saiam dali com desenvoltura.
Se ele foi feito mesmo para acelerar, havia ainda o preparado Cup. Nada de ajustes eletrônicos: aqui os engenheiros tiveram mais peso que os programadores. O eixo dianteiro conta com um diferencial de deslizamento limitado (LSD). A sigla já desvirtuou muitos, mas no Mégane serviu para deixá-lo no caminho certo. Com ele, a roda que tem maior tração recebe mais força e as trajetórias ficam ainda mais fechadas. Os pneus Continental 235/35 aro 19 no lugar do jogo Dunlop 225/40 aro 18 do Mégane RS básico também dão uma mão. Por dentro, bancos tipo concha deixam claro que aquele é um ambiente esportivo.
Era chegada a hora de levar o RS para brincar na curta reta, onde ele triscou os 200 km/h no final do quilômetro lançado, ainda distante dos 254 km/h de máxima. Segundo a Renault, até os 100 km/h são gastos apenas seis segundos. As marchas são curtas, e a caixa parece mais certeira que no Fluence. O limite de giros chegava cedo e um alerta visual no conta-giros e um bipe e sonoro dava a deixa para as passagens. A superioridade terrestre era do Mégane Cup. Contudo, um Tucano T27 da Esquadrilha da Fumaça dominava o espaço aéreo, entre loops e peripécias. Cada um no seu território de domínio, mas com o mesmo caráter acrobático. E com a missão compartilhada de serem armas de exibição.
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