A economia feita ao rejeitar equipamentos importantes na compra do zero pode fazer com que você fique com um mico no futuro
|ilustração: Mauro Souza |
Ar-condicionado, 3000 reais. Direção hidráulica, 1100 reais. Vidros e travas elétricos, 2000 reais. Vender o seu seminovo rapidamente por valor acima da média de mercado: não tem preço. Parece comercial de um cartão de crédito, mas é a mais pura realidade. O exemplo acima foi retirado de preços reais praticados na compra de um hatch compacto zero. Tudo bem que não são valores baixos, mas eles podem ser diluídos nas prestações de um financiamento e impedir que no futuro você fique com um mico nas mãos.Foi o que aconteceu com o representante comercial Eduardo Paulo da Silva, 34 anos, dono de um Palio 1.0 2007. Embora a tabela da Fipe indique que ele custa 22 330 reais, quando foi contatado pela QUATRO RODAS, o proprietário teve de baixá-lo para 10 000 reais para conseguir vendê-lo. O motivo: a falta de ar-condicionado. "Quando comprei o carro, achei que estava fazendo um grande negócio, pois deixei de desembolsar 4000 reais ao dispensar o ar. Mas agora estou penando para vender", diz Silva. "As pessoas não costumam dizer que não estão mais interessadas por causa da falta do equipamento. Mas é comum reagirem um pouco decepcionadas, dizendo: ‘Ah, não tem ar?’."
Faz tempo que a máxima de que carro é investimento deixou de ser verdade. De fato, logo que um automóvel sai da concessionária, ele sofre sua mais acentuada desvalorização, algo entre 15% e 25%, o que pode representar 17 500 reais em um sedã de 70 000 reais, por exemplo.
Bom hoje, ruim amanhã Além disso, é comum opcionais ou acessórios adquiridos no ato da compra do veículo não serem valorizados no momento da revenda. Mas o que ocorre na prática é que um veículo com os equipamentos mais requisitados costuma ganhar em liquidez, ou seja, aumentar a velocidade da revenda.
Ao investir na compra de um automóvel novo, portanto, pense que o que é bom para o conforto do motorista pode ser ótimo para a liquidez do seu carro. Os itens mais valorizados pelo mercado são ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricos, seguidos por um bom equipamento de som - de preferência não só um MP3 player, mas também com entrada auxiliar e USB. Em um segundo patamar, infelizmente, vêm freios ABS e airbag. No terceiro escalão entram bancos de couro, assento do motorista com regulagem de altura, piloto automático, rodas de liga leve e sensores de estacionamento. Se todos vierem já instalados de fábrica, melhor ainda.
O importante é saber que, ao negociar, o vendedor precisa ter bastante paciência. Afinal, tudo o que foi apontado como uma maravilha no momento da compra do veículo zero será desdenhado por quem quiser comprar seu seminovo. Faz parte do jogo. Por isso é importante fazer a escolha certa ao optar ou não pelos opcionais, para afugentar um mico no futuro.
Combinações bizarras Uma maneira de eliminar esses riscos é evitar a compra de um básico com alguns dos opcionais. O ideal é tentar sempre partir para uma versão superior que já venha com esses equipamentos como itens de série. Dessa maneira você tem um carro mais equipado e não perde dinheiro. O problema é que o preço de compra desse modelo será mais puxado.
Se o orçamento está curto e você percebeu que não tem como investir numa versão intermediária, nesse caso tome cuidado para não fazer combinações de equipamentos que sejam uma futura dor de cabeça. Por exemplo, montar um sedã com ar-condicionado, vidros elétricos e sem direção hidráulica. Ou colocar ABS e airbag e deixar de lado um trio elétrico. Configurações raras são garantia de problemas no momento da revenda.
Para ajudá-lo a decidir pela compra dos equipamentos, vale lembrar que modelos das montadoras mais tradicionais (Fiat, Volkswagen, GM e Ford) costumam ter mais flexibilidade na hora de oferecer pacotes de opcionais, enquanto as instaladas mais recentemente no país trazem carros com menos versões e poucos opcionais, com pacotes mais fechados.
SEGURANÇA BARATA
Para quem sempre investiu na segurança,o cenário está mudando - para melhor. No passado, só era possível comparar airbag e ABS adquirindo versões topo de linha ou caros pacotes de opcionais com equipamentos que nem sempre interessavam, como sistema de som ou teto solar. Hoje os dois são oferecidos como opcionais que podem ser comprados separadamente em boa parte das montadoras. O único problema é que o comprador deve controlar seu impulso consumista e fazer um pedido específico à fábrica, pois nem sempre eles estão disponíveis para pronta-entrega.
Se, no passado, ABS e airbag duplo eram caríssimos, atualmente os preços são acessíveis. Na Fiat, por exemplo, é possível pagar 2 500 reais pelo conjunto colocado num Palio. Essa mudança de comportamento de mercado está alinhada com a nova legislação, que obriga que todos os carros fabricados a partir de janeiro de 2014 deverão sair de fábrica com os dois equipamentos. É por isso que algumas montadoras já começaram a se preparar. É o caso da Volks, que em 2010 passou a oferecer ambos como itens de série em algumas versões de Fox, CrossFox e Golf sem aumentar o preço de tabela.
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