O ineditismo e as descobertas inesquecíveis na hora de levar a primeira filha para casa
Ricardo Fiorotto, Cristiane e a pequena Clarice: na rua, todo cuidado é pouco para levar a mais preciosa das cargas para casa
O primeiro passeio da minha primogênita Clarice, que nasceu no dia 24 de junho, não poderia ser carregado de maior simbologia. A saída da maternidade, o primeiro contato com o mundo externo, nesse segundo cortar do cordão umbilical (agora com o hospital), em direção à nossa nova vida a três. O fim do trajeto não representava apenas a chegada ao novo lar, mas o início da minha tão sonhada família, do meu núcleo familiar, de ser pai, e de ver nascer em minha esposa, a Cris, a mãe que eu sempre soube que ela seria. É muito emocionante!
Mas antes de tudo isso, mais emocionante ainda seria o trajeto. Esses 5 km, que estão grudados na minha memória desde então, tiveram um misto de lembrança e muitos sustos. Afinal, estava dirigindo na maior cidade do Brasil. E não é só porque a minha vontade era de andar o caminho todo a 10 km/h que o resto da cidade iria parar – muito pelo contrário.
Voltando um pouco o filme, no dia da alta, faltava a tal carruagem para levar a minha pequena princesa para casa, a também recém-nascida Chevrolet Spin (testada na última edição). Quando saí do hospital, no dia 27 de junho, ela também estava na “maternidade GM” e sequer tinha sido apresentada para a imprensa, o que só ocorreria no dia seguinte. Nosso auxiliar de testes, Alexandre Silvestre, foi até o centro de convenções e levou a novidade até a maternidade para levar a Clarice para casa em grande estilo.
Nesse meio-tempo, eu continuava correndo pra cima e pra baixo, assinando papéis, pegando a certidão de nascimento, entregando pedidos de alta e organizando a pequena mudança que levamos, além de tudo o que ganhamos dos amigos e parentes que nos visitaram. Toda essa bagagem nunca serviria no porta-malas do meu carro, um Ford Focus hatch, mas foi só rebater a terceira fileira da Spin de sete lugares e pronto: estava ali um porta-malas de 720 litros que realmente deu conta do recado.
Depois de descer algumas malas e colocar a cadeirinha no carro, volto pra buscar a nova família, descemos o elevador, chegamos no estacionamento e coloco, com todo cuidado, os cintos de segurança em volta da minha gatinha. Meu Deus, como ela é pequena perto desse mundo tão grande! Ajudo a Cris a entrar no carro, guardo o resto das malas, sento no banco do motorista e o girar da chave vem acompanhado de um frio na barriga. Pra você ter uma ideia do meu nervosismo, só na hora de escrever este texto me dei conta que sequer lembrava se a Spin que dirigi era manual ou automática (o pessoal da redação me confirmou, era automática).
Já na saída, o primeiro susto: pegar a avenida Paulista com todos os ônibus, motociclistas, pedestres, passeatas... Sempre dirigi em São Paulo, tenho carta de motorista há dez anos, mas naquele momento eu parecia estar no Japão, tudo novo e estranho, tentando dirigir da maneira mais suave possível e tendo consciência de que parecia uma vovó de 80 anos ao volante, andando sem passar dos 30km/h, suando frio. Lembrei nessa parte do trajeto de todas as idiotices que eu já fiz ao volante. A direção em São Paulo, por conta do trânsito excessivo e castigante, é marcada pela cultura do “eu não posso perder tempo”.
Fechar os outros carros, se arriscar numa “costurada” para passar dois ou três, não dar passagem, acelerar rápido quando abre o farol, avançar no amarelo, andar acima da velocidade para recuperar o tempo perdido... Tudo isso é prática comum dos paulistanos e minha também, não serei hipócrita em negar. Mas ao ser fechado de graça perto de um cruzamento, levando minha bebê, percebi o quanto somos agressivos, o quanto dirigimos mal. Com a pequenina indefesa dentro do carro, cai a ficha para qualquer pai. Cordialidade é rara no trânsito.
O que não é raro em São Paulo são os buracos. A gente se incomoda com alguns deles no dia a dia, mas só percebemos mesmo quando caimos nos maiores, perdemos um pneu ou amassamos uma roda. Acho que já acostumamos, infelizmente. Levando a Clarice e a Cris, que estava se recuperando da cesariana, fiquei impressionado com a quantidade absurda de solavancos e ondulações transmitidos para a carroceria, mesmo a Spin sendo muito confortável.
Já perto de casa, paro no farol e o frio na barriga volta. Olho para os lados, pelos retrovisores. Lembro das histórias de assaltos em que os pais não conseguiram tirar a cadeirinha do carro a tempo. A da Clarice é de engate rápido. Penso na estratégia, como faria pra puxar a cadeirinha do banco de trás para o da frente pelo vão dos bancos. Isso tudo em segundos. Mesmo sem ter ninguém na rua. Paranoia? Não sei. Talvez ser pai é se preocupar, sempre. Começo a entender algumas atitudes malucas dos meus pais. O que não fazia sentido, agora começa a fazer.
Já na garagem de casa, o sorriso amarelo esconde o que até minutos atrás era um grande nervosismo. Ufa, missão cumprida!
Parece que foi ontem! |
Depois de passar por tudo isso, a primeira pergunta que me veio à cabeça foi: puxa, como será que foi esse momento para o meu pai? E para o meu avô, quando levou a minha mãe pra casa pela primeira vez? Meu pai riu com a pergunta. Afinal, já faz quase 28 anos! Ele disse que não ficou tão nervoso, mas lembrou que naquela época o trânsito era bem mais tranquilo. Ele dirigiu de maneira suave, sem dar tranco, em um Fiat 147 azul, comigo no colo da minha mãe, no banco de trás. Cadeirinha? Cinto de segurança? Que nada! Na época, o máximo de proteção que existia era o encosto de cabeça. Já meu avô, que no dia seguinte ao nascimento da minha mãe teve de voltar a trabalhar, no dia da alta foi buscar a família de táxi, um luxo para a época. Melhor que minha bisavó, que, segundo ele, no dia do nascimento do meu avô, foi para a casa da parteira a cavalo e voltou de charrete. Isso sim é aventura! |
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