Terra de "gigantes": Cobalt ou Grand Siena?



Para esses dois sedãs, não restam dúvidas: tamanho é documento. Lançados há poucos meses no mercado brasileiro, Chevrolet Cobalt e Fiat Grand Siena têm muito em comum. Os dois modelos nasceram de uma nova safra de sedãs que claramente privilegia o espaço interno. Em outras palavras, ter a carroceria mais encorpada para eles não é vantagem, é necessidade. Esse diferencial ganhou corpo (não resisti ao trocadilho!) com o Renault Logan, precursor entre os sedãs compactos com dimensões médias. O modelo da fábrica francesa formou adeptos, e o estilo virou tendência: quanto mais espaçosos, melhor.


Só que, além desse "legado", o Logan também deixou um questionamento: é possível ser grandão e belo? Bom, o tema é subjetivo. E Cobalt e Grand Siena são duas das referências, para o bem ou para o mal. Desde que apareceu pela primeira vez, o Chevrolet causa estranheza. O visual grotesco da dianteira contrasta com a traseira mais discreta e elegante. Seu porte bruto, em parte, é responsável por atrapalhar a harmonia das linhas. São volumosos 4,48 metros de comprimento, por 1,73 m de altura e 1,51 m de altura. Nem os sedãs médios possuem tais medidas. O trunfo recai sobre o porta-malas de 563 litros.
 Fabio Aro  
Do outro lado temos um Grand Siena controverso, mas melhor resolvido. As linhas dianteiras conversam com as laterais e a traseira. Em termos de design, não há como afirmar que o novo sedã da Fiat carece de beleza. Ao mesmo tempo, as formas são um tanto exageradas para um compacto. Em tamanho, o Grand Siena ficou muito próximo do Linea, atual sedã médio da Fiat. Só que partindo de um preço inicial razoavelmente menor. Este, aliás, é outro aspecto comum a essa turma de sedãs. Não basta ser grande, é preciso ser acessível. E isso tem um custo. CobaltGrand Siena e Cia são básicos. Nada de luxo.

Para notar essas características, basta um passeio a bordo desses dois compactos. Nas cabines, os revestimentos plásticos são abundantes, modernos e até atraentes. Mas também explicitam a busca pelo baixo custo. Os painéis não trazem peças acolchoadas, algumas peças simplesmente não encaixam de forma precisa. E o requinte está em molduras que imitam metal ou no couro que cobre volante e bancos. A lista de equipamentos também influencia essa percepção. Chave do tipo canivete, ar-condicionado digital, sistema de som com Bluetooth e entrada USB, sensores de obstáculos...
 Fabio Aro
Alguma Diferença?
 Fabio Aro

Mecânicas compactas, mas ultrapassadas


Para este comparativo, elencamos duas versões distintas de Cobalt e Grand Siena. A regra era ter motor 1.4 flex. Na gama do sedã da Fiat, veio a configuração básica Attractive, única equipada com motor dessa cilindrada, capaz de gerar 88 cv e 12,5 kgfm de torque aos 3.500 rpm (com etanol). No caso do Cobalt, a configuração não influenciou, já que o Chevrolet por enquanto só usa o motor 1.4 litro de 102 cv e 13 kmgf de torque aos 3.200 giros – também com álcool. Uma vez juntos, só havia um problema: os preços. O Grand Siena Attractive custa R$ 36.000, enquanto o Cobalt LTZ tem valor sugerido de R$ 44.833. Só que o sedã Fiat, quando completo, passa a R$ 44.750, valor equivalente ao pedido no Cobalt LTZ – que não tem opcional.

Ou seja, juntando os opcionais presentes na versão testada, o Grand Siena Attractive é adversário direto doCobalt LTZ. Sendo assim, restava levar os dois modelos para a pista e ver qual deles se sairia melhor. Vou confessar, na redação de Autoesporte a expectativa era de que o Grand Siena fosse vencer o duelo com alguma facilidade – dado o porte avantajado do rival. Mas os números não corresponderam. O sedã Fiat levou a melhor nas retomadas e na medição de consumo. Aqui, as médias urbanas foram idênticas (6,9 km/l com etanol), mas as rodoviárias favoreceram o Fiat, com 12,2 km/l ante 9,4 km/l.

Fazendo as contas, o Grand Siena marcou de 9,5 km/l em percurso misto, enquanto o Cobalt fez 8,1 km/l "bebendo" o combustível vegetal. Já nos testes de aceleração, o Cobalt venceu. Na arrancada de zero a 100 km/h, por exemplo, o modelo precisou de 13,2 segundos, enquanto o Fiat levou 13,6 s. E nas retomadas, deuGrand Siena de novo, e com diferença maior. Para resgatar o fôlego dos 40 km/h aos 80 km/h em 3ª marcha, oCobalt gastou 8,8 segundos, um a menos que o rival, que gastou 7,8 segundos. Para ir de 60 km/h a 100 km/h, a distância caiu, com 11,9 s contra 12,2 s. Vale notar que nenhum dos modelos é vigoroso. Os motores 1.4 oferecem bom fôlego, mas sofrem com o veículo carregado ou em ladeiras.
 Fabio Aro

Nos testes de frenagem, a carroceria encorpada (e bitola maior) fizeram a diferença para o Cobalt. Enquanto o sedã da Fiat precisou de 52,7 metros para frear totalmente aos 100 km/h, o Chevrolet percorreu distância bem menor, de 46,9 m. Mais lentos, a velocidade de 80 km/h, os dois rivais tiveram desempenhos parelhos. Mais uma vez deu Cobalt, que de fato transmite mais firmeza e equilíbrio nas retas, curvas e, claro, nas frenagens. O modelo da General Motors parou 100% após 25,6 m, enquanto o Grand Siena se “arrastou” por 26,9 m. Então, ponto para o Cobalt. Detalhe: os dois sedãs estavam equipados com freios ABS.

Vida a bordo e ao volante
A disputa entre as versões de 1.4 litro também é bem intensa no dia-a-dia dentro dos sedãs. No Grand Siena, o interior é ligeiramente maior que no modelo de primeira geração – o recém-atualizado Siena EL. E esse tamanho maior para cima e para os lados ampliou o conforto a bordo. Uma crítica: a Fiat poderia ter criado mais nichos ao redor dos assentos. Mesmo os bolsões das portas são estreitos. Por outro lado, o painel usa materiais atraentes. As texturas das peças de plástico agradam, e o desenho é bem resolvido e funcional. No geral, o nível de acabamento melhorou nitidamente. Até para condizer com a faixa de preços.

No Cobalt, essa amplitude de espaço é ainda maior a bordo. O modelo da Chevrolet é mais largo e comprido que o Grand Siena. No interior, a sensação é de se estar a bordo de um carro médio mesmo. E com direito a um porta-malas gigante, de 563 litros – razoavelmente superior ao sedã do sedã da Fiat, também possui um compartimento generoso de 520 litros. Nos bancos traseiros, vão três adultos de porte médio com folga. Outro aspecto acertado pela GM foi a variedade de porta-objetos – entre os bancos, no painel e nas portas. No quesito vida a bordo, o Cobalt fica em vantagem. Só perde no estilo, que também pode agradar com os instrumentos digitais.
 Fabio Aro

Moral da História


Num primeiro olhar, o design do Grand Siena quase me convenceu a nem olhar muito para o Cobalt. Mas não que o modelo da Fiat seja uma obra de arte móvel: na realidade, o sedã da Chevrolet que é meio “bronco”, com a grade enorme e os faróis meio fora de proporção. Mas nos vários dias que passei com os dois modelos, a vida a bordo do sedã da GM me surpreendeu positivamente. Além de mais espaçoso e cheio de porta-objetos, a sensação de equilíbrio e solidez ao volante é maior. Para completar, o quadro de instrumentos digital tem melhor visibilidade. E os plugs para gadgets (auxiliar e USB) ficam mais bem localizados.

Grand Siena também tem o interior agradável, os bancos são mais verticalizados e a visibilidade é melhor que no rival. Mas nesta configuração Attractive 1.4, o Fiat só vale se o modelo sair mais em conta. Equipado com todos os opcionais, o modelo sobe de R$ 36.000 para R$ 44.750, e fica colado no Cobalt LTZ. A versão topo de linha do sedã da GM é vendida em pacote fechado por R$ 44.833.
 Fabio Aro

Sendo assim, neste embate deu Chevrolet Cobalt, que apesar de não ser tão belo visualmente, oferece um interior mais bem planejado, motor um pouco mais potente e uma estabilidade dinâmica maior em movimento.




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